quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Perfume de Fortuna




Um ambiente rico e acolhedor: assim é a cozinha desta mulher. Você conhece cada detalhe. O forno à lenha, as panelas de cobre, a cortina xadrez na janela, os castiçais antigos, velas, incensos, ervas secas penduradas junto ao fogão, os canteiros de flores e ervas nas janelas.

A aparência da mulher é tão rústica quanto a casa. Alta, grande, seios fartos, mãos que não param de gesticular, o vestido florido exibe um decote generoso, o cabelo atado em um lenço colorido - impossível não lembrar as matronas italianas. Ela se mistura ao ambiente, mas não como algo decorativo ou figurante: ela é dona e pertence ao mesmo tempo, cheiro e cor e sabor e calor e sons. A recepção é calorosa, um abraço e uma taça de vinho temperado.

Ela pede que você fique por perto, enquanto mistura ovos, leite, azeite, sal e açúcar numa travessa grande. Os movimentos são firmes e delicados, a colher de pau desliza na mistura enquanto ela fala sobre Fortuna. Eu gosto tanto Dela... como ela fosse minha mãe, sabe? Uma pena que as pessoas pensem nela apenas como a sorte. Afinal, o que é sorte? O que, de fato, rege nossas vidas? O desígnio dos deuses? Uma moeda lançada ao ar? Uma carta de baralho? A lei do retorno? Às vezes nós fazemos tudo certo, como manda o figurino. E no fim das contas, o resultado é completamente diferente do que a gente imaginava. Por exemplo, eu adoro fazer pão, a sensação de misturar os ingredientes com as mãos, amassar, sovar, deixar crescer, dar forma, observar o tempo enquanto assa e degustar assim que sai do forno. Mas nem sempre foi assim. Antes de eu me casar, nunca dava certo. E olha que eu colocava as medidas certinhas, hein? Mas nunca, nunca deu certo.

A mulher sacode os braços no ar, uma fina camada de farinha escapa de suas mãos, transformando o ar em fina poeira branca. O que mudou? Nada, eu continuo fazendo tudo igual. Quer dizer, nem tudo: porque agora eu sinto o processo, eu percebo o tempo e eu deixo as coisas acontecerem. Hoje em dia as pessoas não se envolvem com mais nada: compram comida pronta e congelada, esquentam no microondas... Argh. Igual essas pessoas que consultam um oráculo só pra saber o que vai acontecer amanhã. E viver que é bom, nada. Não querem viver, não querem morrer, têm medo do que vai acontecer; preferem esquecer os amores rapidamente, ganhar dinheiro rápido e morrer dormindo. Viver é uma entrega, é preciso se dar inteiro pra Fortuna, deixar-se cair, sentir o corpo ir e voltar como numa cama elástica.

Ela bate forte num dos braços, chacoalha o corpo todo numa gargalhada e outra nuvem de farinha preenche o ambiente. Pede para você colher algumas folhas de manjericão e hortelã do canteiro de ervas. Vocês conversam sobre vida, morte e renascimento. Com as folhas perfumadas nas mãos, ela fala o que pensa sobre a Roda: - Essas folhas aqui, que você colheu, já fizeram parte de um corpo. Aquele corpo já foi semente um dia. A terra que abrigou a semente conta uma história de vida e morte. Essas folhas perfumadas estão mortas, sim. Mas elas agora serão parte de outro corpo, quente e rico; um corpo que vai alimentar outro corpo; que vai caminhar e levar consigo algo desse perfume. Percebe? Tudo é cíclico.

As mãos agora rasgam as folhas, que são misturadas à massa do pão. O tempo passa, mais vinho se derrama, o calor do forno se propaga. Ao fim da tarde, a carne do pão se abre, quente, perfumada e viva. A massa se derrete em sua boca, e você sente o movimento da vida.


Pão de Ervas e Iogurte

1 tablete de fermento biológico (15g)
1 colher (sopa) de açúcar
meia xícara (chá) de leite morno
2 potes de Iogurte Natural Integral
meia xícara (chá) de óleo
1 ovo
meia xícara (chá) de queijo parmesão ralado
1 colher (sopa) de ervas picadas (manjericão, alecrim, orégano, hortelã, etc).
meia colher (sopa) de sal
4 xícaras (chá) de farinha de trigo
manteiga , para untar
farinha de rosca , para polvilhar
1 gema, para pincelar
1 colher (sopa) de queijo parmesão ralado
1 colher (chá) de orégano, para polvilhar


Modo de Fazer:

Coloque em um recipiente refratário grande o fermento, o açúcar e mexa até ficar líquido. Acrescente o leite, os Iogurtes, o óleo, o ovo,
o queijo, o orégano e o sal. Com o auxílio de uma colher vá adicionando a farinha de trigo aos poucos até ficar uma massa consistente e homogênea. Coloque em uma fôrma para bolo inglês grande (11 X 28 X 8cm) untada e polvilhada com farinha de rosca. Deixe crescer em lugar aquecido por cerca de 1 hora.
Pincele com a gema e polvilhe o queijo parmesão e o orégano. Asse em forno médio (180°C), pré-aquecido por aproximadamente 30 minutos. Espere amornar e desenforme.

5 comentários:

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  2. Muito interessante, adorei ! Cheguei aqui através dos comentários do blog da Mulher Verde. Qdo puder visite nosso blog, lá sempre temos chá e bolos deliciosos para compartilhar. Um abraço, Liz

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  3. Dizer que seu blog é lindo seria desprezá-lo. Ele não é pra se ver, mas pra se sentir. Seu blog é delicioso! Foi a descoberta feliz do dia!

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